Galera.bet, de apostas esportivas, vai tentar a sorte em rodeios

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Galera.bet, de apostas esportivas, vai tentar a sorte em rodeios

Com o mercado do futebol já inundado por cerca de mil sites de apostas que disputam a atenção dos torcedores dispostos a fazer uma fezinha, um dos principais players desse segmento no Brasil entendeu que é chegada a hora de diversificar o negócio e estar presente em outras arenas.

A Galera.bet, que patrocina a Série A do Brasileirão e pertence ao grupo britânico Playtech, está se preparando para permitir que seus usuários, a partir do início do ano que vem, possam também apostar em rodeios, um mercado ainda pouco explorado pelas plataformas de bet no país.

"Já tem gente fazendo isso, mas de forma irregular e em rodeios menores. São sites tão pequenos que as odds [prêmio pago a partir da probabilidade de acerto] são ajustadas manualmente à medida em que as apostas vão chegando", afirma o CEO da Galera.bet, Marcos Sabiá, um ex-executivo de RH com passagens por Odebrecht e Braskem, e que, curiosamente, também é pastor em uma igreja batista.

Sabiá, contudo, reconhece que a empreitada envolve um certo risco, justamente porque quase ninguém faz e também porque há poucas informações que permitam dimensionar o tamanho do público potencial. Mesmo nos países onde já há algum mercado mais maduro de apostas em rodeios — como nos Estados Unidos e no Canadá — há poucos dados abertos por aqueles que operam, o que também dificulta algum tipo de projeção para o Brasil.

O que anima a Galera.bet a fazer essa aposta é a cultura sertaneja que está enraizada no país, não só pelos rodeios e vaquejadas que são populares no interior, mas também pelo sucesso das músicas e pelo dinheiro que o agronegócio movimenta. "São cerca de 70 milhões de pessoas que respiram o estilo de vida agro e a cultura sertaneja. Não por acaso, sempre tem música sertaneja no top 5 das mais ouvidas no Spotify", ele ressalta.

A Galera.bet, que hoje tem 3 milhões de usuários em sua plataforma, será a primeira marca da Playtech a entrar nesse segmento. No Brasil, há cerca de 100 rodeios que são organizadas pela PBR, a principal liga internacional da categoria. Como parte da plano para se associar a esse mercado, a Galera.bet decidiu ser patrocinadora master do Circuito Sertanejo, que inclui a a festa de Barretos, a maior do país, ao reunir 1 milhão de pessoas por ano. Trata-se de uma estratégia similar ao adotado no futebol, já que a marca patrocina a Série A.

Ao entrar em rodeios, a ideia da empresa não é apenas diversificar a operação, mas também reforçar o seu posicionamento como um negócio de entretenimento e diversão, e não somente de apostas. Além disso, quer que o público do rodeio passe a ter a Galera.bet como a sua plataforma preferencial para apostas em qualquer esporte, diferenciando-se das outras muitas que marcam a competição acirrada no futebol. "O cara que vai ao rodeio também tem time do coração e também vai apostar nos jogos."

A enxurrada de bets que aparecem no futebol, aliás, já causou problemas para a Galera.bet que vão além da disputa por público. A plataforma trava uma batalha na Justiça com a CBF para fazer valer o seu contrato de exclusividade de patrocínio na Série A, porque a confederação chegou a incluir outras marcas em peças de publicidade que deveriam ter somente a Galera.bet.

As plataformas têm apostado tanto em publicidade que só um dos 40 times que fazem parte da primeira e da segunda divisão, o Cuiabá, não tem um site como patrocinador no uniforme. O avanço, impulsionado por uma lei do fim de 2018 que abriu as portas desse mercado, levou a Câmara a aprovar outra lei neste ano para criar uma regulamentação, que ainda passará pelo Senado.

Uma das medidas mais relevantes é a imposição aos sites de uma taxa de R$ 30 milhões para poder operar, o que deve tirar da praça as plataformas de menor porte, que não têm caixa para isso, deixando só as maiores na corrida, como a Galera.bet, que seguirá tendo o futebol como o mercado mais importante. A barreira de entrada, inclusive, pode ajudar a bet comandada por Sabiá a ter um caminho mais fácil para se consolidar no mercado de rodeios.

Antes disso, porém, a empresa está tendo o desafio de construir uma longa base de dados de rodeios passados que lhe permita criar algoritmos que calculem os prêmios com o maior nível possível de precisão em relação às probabilidades, e atualizados automaticamente. Se no futebol isso já está azeitado, nos rodeios ainda há um legado de estatísticas para ser construído. O trabalho começou há meses e envolve especialistas em ciências de jogos do Insper e da UFPE.

A parte mais sensível, contudo, será criar mecanismos que evitem a manipulação, um tema que ganhou força com a CPI das apostas que investiga casos envolvendo jogadores de futebol. Assim como no gramado há apostas que envolvem fatos que podem ser facilmente manipulados por uma só pessoa — como o cartão amarelo —, nos rodeios há situações tão simples quanto acertar se o peão vai cair antes do tempo ou não.

Para se prevenir de problemas como esses, a Galera.bet pretende se valer de técnicas que já são utilizadas no futebol, como conhecer a fundo o histórico dos atletas, para perceber quando há um fato que sai do habitual para aquele profissional e possa representar um indício de manipulação, e monitorar movimentações atípicas de dinheiro na plataforma. "É do nosso interesse evitar que essas coisas aconteçam, porque, se há manipulação, é a plataforma quem perde dinheiro."